Entrevista com João Chaddad

Retomando as entrevistas com grandes bonsaístas do Brasil, aqui o trabalho de João Chaddad mais um apaixonado pela arte do bonsai. Aqui na sua entrevista alguns dos seus lindos trabalhos e um pouco da sua vida no bonsai. Deixo aqui o meu obrigado pelo tempo e pela oportunidade de ter mais um amigo compartilhando trabalhos aqui no blog. Acima João com uma linda Primavera (bougainvillea)

. 1 – Quando você se interessou e começou a se dedicar à arte do bonsai ?

Comecei a me interessar em 1976, tinha 12 anos, através de duas matérias no jornal de Plantas e Flores que vinha como encarte interno da revista de mesmo nome.

Buxinho

2 – Quais espécies você mais gosta de trabalhar?

Gosto de trabalhar com as espécies que conseguem engrossar o tronco relativamente bem em vasos, como paineiras, Ficus, Taxodium, Metasequoia, eritrina. Mas também gosto de jaboticabas (Myrciarias spp.) e pitecos (Chloroleucon tortum) porque são muito maleáveis.

Pinheiro de brejo

3 – Que espécie você gostaria de trabalhar mas as circustâncias de clima e adaptação não permitem?

Sequoia gigante (Sequoiadendrum giganteum), Laricio (Larix decídua e L. kampferii) Notophagus antarctica, Pinho branco japonês (Pinus parvifolia) e Pinho branco koreano (Pinus koraiensis)

4 – Dos seus trabalhos, qual você destaca com um carinho especial? Me fale um pouco sobre ele.

O que tenho mais carinho é o estilo trançado, uma vez que para realizar uma planta bem feita tem que ser planejado meticulosamente passo a passo. Selecionando plantas em alturas graduais, nem finas nem grossas, pois ambas lascam fácil. Distribuindo lateralmente os ramos durante o enrolamento de cada planta, e de acordo com o ângulo e a distância entre ramos, sendo esta última gradativa de baixo para cima. Ocorrendo durante esse processo um enrolamento de um arame que manterá unido os ramos por meses ou anos. Após isso, a cada 2 ou 3 meses outro arame é colocado paralelo ao primeiro, e então esse primeiro é retirado para não marcar a casca, e isso se repete as vezes 3 ou 4 vezes. Assim é preciso ser um tipo de planta que se estima muito pois está exige atenção mensal. Abaixo pitecolobium tortum, de 4 anos feito de 4  mudas enroladas.

 

5 –  Você gosta mais de algum estilo de bonsai em particular? Qual?

Gosto em particular do estilo cascata, em parte por este ser uma forma submissa como se ela se curvasse a nós, mas na verdade nós que temos que nos ajoelhar para trabalha-la.

Pinho negro japoês

Esse estilo também apresenta muitos desafios, um deles é a engorda da planta, ou seja, engrossar a base do tronco e os ramos mais baixos. A planta caindo não pode ser no chão, então usamos canos, jardineira, e pilha de vasos.

Buxinho

Este último deu mais resultados, cada um dos vasos empilhados depois de serradas as raízes produziram novas plantas em cada vaso, para aquelas que pegam de estacas, como olmo, jequitibá e pitanga.

 Paineira comum com orquidea Dendrobium

6 – O que a arte do bonsai agregou na sua vida ?

Valores morais, sociais e espirituais. Cultivando o respeito a nós mesmos e ao próximo, respeito pela natureza e a coletividade. Respeito pela grandiosidade do criador com seus “arquitetos”, que a tudo construíram, em especial a nós mesmos, e a possibilidade que nos proporcionam de poder admira-la e trabalha-la. Porque quando trabalhamos bonsai passamos nossas intenções e pensamentos às plantas, se houver maldade está em nossas mentes.

Ficus microcarpa

7 – Você acha que um bonsai deve seguir uma ordem rígida de técnicas e estética, ou deve seguir uma forma mais livre e artística ?

Na minha opinião, aqueles que tem maior conhecimento tem a possibilidade de seguir regras mais rígidas. Na verdade elas já existem, são convencionadas, a diferença é que alguns conseguem segui-las na risca porque detêm o conhecimento necessário para pratica-las desde o inicio da planta. Tais regras precisam ser passadas aos poucos para não assustar os iniciantes, aprofundando os em tais regras na medida em queevoluem na arte.

Jequitibá rora

8 – Qual bonsaísta (um ou mais) chama a sua atenção hoje no cenário mundial?

Nick Lenz, ele ultrapassa os limites entre a arte e o bonsai.

9 – Que conselhos você daria para quem está começando a se dedicar à arte do bonsai?

Interesse, ânimo e paciência.

 Embiriçú

10- Como você vê o crescimento da Arte hoje no Brasil?

Vejo um crescimento muito satisfatório, com características regionais muito nítidas. Embora, seu interesse se espalha pelo país através dos fóruns, há cidades onde as técnicas avançadas ainda permanecem concentradas em alguns grupos.

11- O que deveria ser feito para melhorar a divulgação e o número de praticantes?

Sem dúvida dois tipos de eventos são os que atraem mais iniciantes para a arte, exposições e encontros abertos. Entretanto, são menos praticados, pois, rendem poucos lucros e necessitam do apoio de instituições, como shoppings, associações, clubs, etc.

Cursos são ótimos, aperfeiçoam muito os bonsaístas, mas ainda permanecem muito elitizados e localizados, ficando a maioria dos interessados marginal às técnicas específicas. O artista de bonsai tem de ir ao onde o povo está, se locomover para difundir. Como mestre Hidaka fazia, viajando e ensinando, criando novos focos de conhecimento. Na verdade as pessoas interessadas precisam se associar e trazer professores, de preferência com especialidades diversas, com as quais o grupo crescerá em técnica e eficiência. Além do mais, é mais barato o professor se locomover de onde mora do que vários alunos para onde o professor mora.

Falsa Coca

12 – Diga uma frase, um pensamento, que você ache que sintetiza nossa arte.

Recriar a natureza perto de nós.

Paineira barriguda

 

13 Respostas to “Entrevista com João Chaddad”

  1. Estou apaixonada!!

  2. Tenho muito orgulho de falar que posso usufruir da compania do Chaddad uma vez por mês em nossos encontros de bonsai em Piracicaba. Humildade, comprometimento, sabedoria, paciência, descomprometimento financeiro essas são algumas qualidade desse artista chamado por nós de Chaddad. Grande abraço e parabéns pela matéria Paulo.

  3. Obrigado por visitar o blog. Grande abraço !

  4. Grande Chaddad, conhecedor profundo das espécies nativas, um gentleman, iluminado! Um grande abraço, Paulo, pela bela escolha, ao colocá-lo no rol de suas entrevistas!

  5. muito bom…
    parabens ao Chaddad, mais uma vez, e ao Paulo pela iniciativa.

  6. WELLINGTON DE SANTANA Says:

    Estou satisfeito pela entrevista, por conhecer mais um bonsaista do qual somente conhecia fotos dos trabalhos.

  7. Obrigado por visitar o blog!

  8. Luciano Alves da Silva Filho Says:

    Gostei muito dos seus bonsais e pelas fotos é visível qu tempoeoq a sua dedicação é muito grande e tem que se ter tempo e muito amor.Mas eu gostaria de saber onde conseguir mudas ou sementes destes bonsais do seu site e se custao caro ou se pode adquirir gratuitamente e onde conceguilas .Espero as próximas fotos de seus novos bonsais .

  9. Deolinda Lima Rezende Says:

    Não me canso de vistar o seu blog!!!. Sou bonsaita a muitos anos embora hoge eu só faço a manutenção dos meus 50 bosais. Moro em apartamento . Agora complicou porque me apaixonei tambem pela Rosa do Deserto!!!

  10. Carlos Guerra Bicheiro Says:

    Prof. Chaddad eh um super ser humano ! Muito boa matéria.

  11. chaddadbonsai Says:

    Obrigado a todos, e ao Paulo pela oportunidade. Também gostei muito da entrevista. Poder partilhar as experiências com pessoas interessadas é muito gratificante. O pouco que tenho a mostrar pode ser útil a um colega que adentra nessas técnicas ou nesses tipos de plantas.
    Vamos nos comunicar, pelo facebook ou pelos blogs.
    Abraço a todos.
    João Chaddad Junior

  12. Marcio Norio Ueda Says:

    muito legal sua entrevista. como posso conseguir pré bonsai ou bonsai de taxisodiun (pinheiro do brejo).
    resido próximo a sua cidade, como posso entrar em contato com você?

  13. Obrigado por visitar o blog Miecislau ! grande abraço

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