Wabi Sabi “A beleza na imperfeição”

A beleza na imperfeição. ” A beleza do tempo”

Wabi Sabi é uma expressão japonesa usada para definir a harmonia visual que existe na imperfeição. Olhar e tentar observar tudo com simplicidade, naturalidade, e atenção à realidade que está a nossa volta.

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Varrendo um grande jardim:

Em uma linda noite, um dos maiores mestres da cerimônia do chá no Japão, Takeno Joo, recebeu em seu mosteiro um jovem chamado Sen no Rikyu, que bateu à sua porta querendo aprender os complicados rituais da cerimônia.

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Mestre Takeono Joo

Takeno abrigou o rapaz e pediu que, no dia seguinte pela manhã bem cedo, antes das orações, ele varresse o jardim externo do mosteiro, que era todo circundado de Momijis e cerejeiras em flor.

Pela manhã Rikyu, começou feliz seu trabalho e, ao final de algumas horas, o jardim estava completamente limpo e sem folhas. Olhou mais uma vez e, antes de chamar o seu mestre, checou cada centímetro de areia e pedras para ver se estavam completamente limpas.

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Sen no Rikyu

Sen Rikyu se dirigiu para uma árvore central do jardim e sacudiu um de seus galhos e algumas flores caíram no areia e nas pedras do jardim. Ele retornou e falou para seu mestre que, agora sim, estava tudo em harmonia. O mestre Takeono sorriu e, daquele dia em diante, Sen Rikyu se tornou um dos seus melhores alunos do mosteiro e se tornaria, com o tempo, um dos maiores e mais revolucionários mestres da cerimônia do chá no Japão.

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A cultura Zen e Taoísta mostra que a ação do homem tem que ser leve e harmoniosa quando lida com a natureza e com o que está à sua volta. Não devemos interferir de maneira que se perca a essência da vida: nascimento, amadurecimento e morte são um ciclo e devem ser respeitados. Devemos enxergar e admirar aquilo que o tempo desgasta e toca com suas mãos.

Ter uma visão Wabi Sabi é ter um olhar melancólico, sabendo que á vida é feita de várias etapas passageiras, e o pensamento Budista retrata bem esse sentimento.

“Todas as coisas são impermanentes. Todas as coisas são imperfeitas. Todas as coisas são incompletas”.

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Wabi Sabi e o Bonsai

Podemos entender e aplicar esse conceito ao nosso trabalho na criação de Bonsai, principalmente observando a beleza das árvores que nos inspiram a fazer os estilos de madeira exposta e arrastada. As árvores à beira mar com seus galhos retorcidos e polidos pelo vento, que perdem seu ápice ou uma braça de tronco pela ação de um raio, perdem sua beleza? Não, ficam na minha opinião mais bonitas! Isso é Wabi Sabi.

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Às vezes perdemos por acidente um galho importante na estética de um estilo escolhido para um bonsai. Já aconteceu comigo de um tronco central rachar ao meio depois da queda de um grande e pesado galho com o vento sudoeste. Às vezes uma broca escondida abre um buraco interior no tronco, um galho seca pela aramação, aí uma nova direção estética tem que ser tomada, e uma mudança é forçada no estilo do trabalho, e essa nova direção pode trazer uma beleza diferente para nossos olhos.

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As características materiais de wabi-sabi são:

Sugestão de processo natural

Irregular

Antigo

Intimista

Despretencioso

Terreno

Simples

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Comentário sobre o conceito  “Wabi Sabi de Marcelo Duptat”, professor de pintura e cordenador do curso de belas artes da UFRJ e maravilhoso Bonsaísta:

O professor de desenho Nelson Macedo, tem uma metáfora simples e esclarecedora que se aplica a atitude que temos diante de todo o visível. Diz ele que quando olhamos um prédio moderno, de vidro e aço, vemos primeiro o todo. Sua forma é pregnante. Mas olhando uma ruína o olhar vagueia. Vai a cada pedacinho, identificando cada acidente. Logo reconhece a ação do tempo, verdadeira história impressa e gravada no corpo da construção.
O mesmo se aplica a uma quadro ou bonsai. São formas que muito podem expor sua história, sua idade, o quanto mudaram. Conseqüentemente reconhecemos uma existência, que é, uma vida.
Sua resistência ao tempo, como logo imaginamos, pode ser desastrosa ou ter alguma dignidade. Afinal há muitos modos de envelhecer, não é mesmo? O tempo pode ser um inimigo e carrasco, cedo ou tarde ele sempre o é. Mas, enquanto se está em harmonia com ele, o sublime gestor da vida e da maturidade. Pequena muda se transforma em frondosa árvore.
Digo isso porque a palavra “imperfeição”, no titulo “a beleza da imperfeição”, não parece perfeita. “A beleza do tempo”, para nós ocidentais, apesar de ficar estranho, seria mais apropriado.

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8 Respostas to “Wabi Sabi “A beleza na imperfeição””

  1. Muito bom. A imperfeição é realmente bela, parece esta sempre nos transmitindo uma história de esforço de luta de persistência contra o tempo. Um Abraço.

  2. Muito bom Paulo, é uma pena que muitos bonsaístas enxergam o vazio como o nada, e não como parte de um todo, mas para nossa realidade ocidental é mesmo muito complicado se desgarrar de tais definições para uma cultura oriental e ainda mais de alta complexidade como o assunto relacionado.

    Mesmo não tendo ainda uma tradução exata, acho que suas ilustrações ficaram muito boas como exemplo.

    Grande abraço.
    Fabiano.

  3. O professor de desenho Nelson Macedo, tem uma metáfora simples e esclarecedora que se aplica a atitude que temos diante de todo o visível. Diz ele que quando olhamos um prédio moderno, de vidro e aço, vemos primeiro o todo. Sua forma é pregnante. Mas olhando uma ruína o olhar vagueia. Vai a cada pedacinho, identificando cada acidente. Logo reconhece a ação do tempo, verdadeira história impressa e gravada no corpo da construção.
    O mesmo se aplica a uma quadro ou bonsai. São formas que muito podem expor sua história, sua idade, o quanto mudaram. Conseqüentemente reconhecemos uma existência, que é, uma vida.
    Sua resistência ao tempo, como logo imaginamos, pode ser desastrosa ou ter alguma dignidade. Afinal há muitos modos de envelhecer, não é mesmo? O tempo pode ser um inimigo e carrasco, cedo ou tarde ele sempre o é. Mas, enquanto se está em harmonia com ele, o sublime gestor da vida e da maturidade. Pequena muda se transforma em frondosa árvore.
    Digo isso porque a palavra “imperfeição”, no titulo “a beleza da imperfeição”, não parece perfeita. “A beleza do tempo”, para nós ocidentais, apesar de ficar estranho, seria mais apropriado.

  4. Lindo post. Sugiro mais fotos que exploram este assunto, tão rico, vasto e penetrante.

  5. Eliane Fernandes Says:

    Adorei …..

  6. Marcus Vinicius Says:

    Caro Paulo, mais uma vez, você nos encanta com um assunto de tamanha sedução…Hoje, fotografando natureza, tento “impor” às minhas imagens esse conceito de “naturalmento imperfeito”…mas, não é fácil…
    Um grande abraço e sucesso!

    HDR - Cascata Diamantina     /  Diamantina waterfall  -
  7. Caro Paulo

    Sou fotógrafo e minha maneira pessoal de olhar o mundo a minha volta, sempre procurando a beleza da simplicidade e a simplicidade do que é belo, me encontrei com o Wabi-sabi, ou ele me mostrou o caminho e, na minha ânsia em conhece-lo, preciso saber qual o simbolo ou a palavra chave para Wabi-sabi em janpones.
    Parabéns e obrigado pela leveza de suas palavras.

    CarlosDimari

  8. Ola ! Obrigado por visitar o blog. Vou procurar e te envio, me cobre por favor !

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